Acredito que a Síria pode voltar a ser um país pacífico e que os sírios podem recuperar seu orgulho e voltar a ser cidadãos, em vez de refugiados.
Intervenção militar significa guerra. Não acredito no uso da força para implantar a democracia nem na violência para garantir a paz. Uma ação militar transformará a Síria no campo de batalha de uma guerra maior envolvendo Irã, EUA e Rússia.
Um dia, vão perguntar o que as pessoas que tinham voz fizeram para defender o país neste momento da história. Para mim, a opção pelo silêncio é covarde e imoral.
É nossa responsabilidade mostrar ao mundo que a intervenção militar pode agravar a crise humanitária.
Assad é arrogante e orgulhoso, vai continuar lutando para se manter no poder. Os rebeldes querem impor a ideologia do islamismo.
Ninguém diz nada sobre a população síria.
Há crianças fora da escola há dois anos. Uma guerra não vai resolver isso.
Obama disse que Bashar al-Assad seria punido caso ultrapassasse a linha vermelha [o uso de armas químicas]. Agora precisa manter sua palavra perante a comunidade internacional. É por isso que ele quer ir à guerra.
Acho que Obama não se importa com o povo sírio, e sim com o risco de que armas químicas caiam nas mãos de jihadistas, que poderiam usá-las contra o Ocidente.
Os EUA deveriam esperar o fim da investigações das Nações Unidas. Em vez disso, Obama está repetindo o que George W. Bush fez no Iraque. É a mesma ideologia de supremacia mundial, de que os EUA podem fazer o que quiserem no mundo.
A intervenção militar não será tão limitada como ele diz. Será um pontapé na porta que pode levar a um conflito maior em toda a região.
o Ocidente fez mais do que nos últimos dois anos, ao se unir para viabilizar uma guerra contra a Síria. Por que os países não se uniram antes para encontrar uma saída política que possa salvar o país?
As vítimas dessa guerra não serão Assad e sua família, que vão encontrar uma forma de fugir em segurança. Serão as pessoas comuns, as mães e os jovens sírios.
Vai haver mais refugiados e mais mortes. Para onde a população vai fugir? Já há 500 mil sírios sobrevivendo de doações no Egito, na Jordânia e no Líbano. Mães estão vendendo filhas a jihadistas em troca de comida.
Apesar das atrocidades de Assad, as pessoas estão aterrorizadas com a ideia de uma invasão externa.
A guerra transformou o Iraque em um terreno fértil para o terrorismo. Nos últimos meses, houve 4.000 mortes no país por causa do sectarismo. A Síria pode acabar repetindo isso.
Segundo Obama, o ataque seria a única forma de deter o uso de armas químicas, que já matou centenas de civis sírios.
Não há como garantir que a intervenção acabará com o uso de armas químicas. Se o objetivo é punir Assad, é preciso apresentar provas e julgá-lo numa corte internacional. Não se pode destruir um país para punir um homem.
O Ocidente deveria fortalecer a oposição política na Síria, que está dividida e sem estratégia, e estimular iniciativas que possam conduzir a um governo de transição.
Não adianta bombardear as cidades e executar o líder, como fizeram com Saddam Hussein. O objetivo da ação deve ser a ajuda humanitária ao povo sírio, e não a luta por poder no Oriente Médio.
Os políticos britânicos estão conscientes do que o Reino Unido fez no Iraque e no Afeganistão e não querem que isso aconteça de novo.
Não adianta invadir os países e depois ver uma repetição do que ocorreu em Woolwich [bairro de Londres onde o soldado Lee Rigby foi morto por radicais islâmicos, em maio deste ano].
O Parlamento deixou claro que antes de agir é preciso ver o resultado da investigação sobre o uso de armas químicas. Você não pode punir quem violou leis internacionais com uma ação que também viole essas leis.
Quero ser bem claro nesse ponto. Desde que comecei a defender a paz na Síria, tenho sido acusada por muita gente de apoiar Assad. É imoral acusar alguém que defende a paz de apoiar um ditador ou um criminoso de guerra.
Defendo a paz porque acho que a guerra será um desastre para o país. Os sírios têm direito, assim como os americanos, de acordar e levar os filhos para a escola. As mulheres têm o direito de trabalhar, de ir ao supermercado. Não merecem ficar presas a uma guerra durante anos.
É possível buscar uma saída política. Se a comunidade internacional se esforçar, a situação pode ser resolvida sem mais mortes e mais sofrimento no país.
O que pensa de Assad?
Quando chegou ao poder [em 2000, no lugar do pai Hafez al-Assad], ele se apresentou como um líder liberal e secular, que levaria a Síria para uma nova era. Isso mudou ao longo do tempo.
Assad não entendeu e não soube lidar com a Primavera Árabe. Pensou que a população síria de 2011 era a mesma dos anos 80, quando seu pai chefiou a repressão em Hama [em massacre que deixou cerca de 40 mil mortos, em 1982].
Ao se sentir ameaçado, ele criou um mecanismo para sobreviver com apoio de Rússia e Irã, que estão usando a Síria como instrumento para combater o Ocidente. O país ficou espremido nesse conflito.
Parte da sociedade síria também ajudou a manter essa ditadura. Ditadores não vêm de Marte. Eles se alimentam do medo das pessoas, da incapacidade de dizer não. Durante muitos anos, as pessoas apoiaram Assad porque achavam que o regime protegia seus interesses.
Uma série na TV síria que mostrava como a religião é usada no Oriente Médio, especialmente por clérigos, para manter a dominação patriarcal e oprimir as mulheres em nome do islã. E como a burca transforma as mulheres em criaturas invisíveis, marginalizadas.
Acredito que o uso de uma vestimenta deve ser opção da mulher, e não uma imposição religiosa. Um clérigo sírio editou uma "fatwa" contra mim, afirmando que eu estava promovendo ideias ocidentais. Eu deveria ser punida com a perda de um braço. Hoje, na guerra civil síria, há jihadistas que vão a campos de refugiados, pagam para uma mulher se casar com eles durante quatro dias e depois vão para o combate, acreditando que chegarão ao paraíso. Isso é feito em nome da religião.
Acho que a única saída é a educação. As escolas precisam ensinar direitos humanos, parar de falar só em religião e falar em tolerância.
O Ocidente ainda nos vê como bárbaros e acha que precisa de bombas para lidar com o Oriente Médio. E nós colaboramos com isso quando matamos em nome da religião e deixamos que ela controle nossas vidas.
Intervenção militar significa guerra. Não acredito no uso da força para implantar a democracia nem na violência para garantir a paz. Uma ação militar transformará a Síria no campo de batalha de uma guerra maior envolvendo Irã, EUA e Rússia.
Um dia, vão perguntar o que as pessoas que tinham voz fizeram para defender o país neste momento da história. Para mim, a opção pelo silêncio é covarde e imoral.
É nossa responsabilidade mostrar ao mundo que a intervenção militar pode agravar a crise humanitária.
Assad é arrogante e orgulhoso, vai continuar lutando para se manter no poder. Os rebeldes querem impor a ideologia do islamismo.
Ninguém diz nada sobre a população síria.
Há crianças fora da escola há dois anos. Uma guerra não vai resolver isso.
Obama disse que Bashar al-Assad seria punido caso ultrapassasse a linha vermelha [o uso de armas químicas]. Agora precisa manter sua palavra perante a comunidade internacional. É por isso que ele quer ir à guerra.
Acho que Obama não se importa com o povo sírio, e sim com o risco de que armas químicas caiam nas mãos de jihadistas, que poderiam usá-las contra o Ocidente.
Os EUA deveriam esperar o fim da investigações das Nações Unidas. Em vez disso, Obama está repetindo o que George W. Bush fez no Iraque. É a mesma ideologia de supremacia mundial, de que os EUA podem fazer o que quiserem no mundo.
A intervenção militar não será tão limitada como ele diz. Será um pontapé na porta que pode levar a um conflito maior em toda a região.
o Ocidente fez mais do que nos últimos dois anos, ao se unir para viabilizar uma guerra contra a Síria. Por que os países não se uniram antes para encontrar uma saída política que possa salvar o país?
As vítimas dessa guerra não serão Assad e sua família, que vão encontrar uma forma de fugir em segurança. Serão as pessoas comuns, as mães e os jovens sírios.
Vai haver mais refugiados e mais mortes. Para onde a população vai fugir? Já há 500 mil sírios sobrevivendo de doações no Egito, na Jordânia e no Líbano. Mães estão vendendo filhas a jihadistas em troca de comida.
Apesar das atrocidades de Assad, as pessoas estão aterrorizadas com a ideia de uma invasão externa.
A guerra transformou o Iraque em um terreno fértil para o terrorismo. Nos últimos meses, houve 4.000 mortes no país por causa do sectarismo. A Síria pode acabar repetindo isso.
Segundo Obama, o ataque seria a única forma de deter o uso de armas químicas, que já matou centenas de civis sírios.
Não há como garantir que a intervenção acabará com o uso de armas químicas. Se o objetivo é punir Assad, é preciso apresentar provas e julgá-lo numa corte internacional. Não se pode destruir um país para punir um homem.
O Ocidente deveria fortalecer a oposição política na Síria, que está dividida e sem estratégia, e estimular iniciativas que possam conduzir a um governo de transição.
Não adianta bombardear as cidades e executar o líder, como fizeram com Saddam Hussein. O objetivo da ação deve ser a ajuda humanitária ao povo sírio, e não a luta por poder no Oriente Médio.
Os políticos britânicos estão conscientes do que o Reino Unido fez no Iraque e no Afeganistão e não querem que isso aconteça de novo.
Não adianta invadir os países e depois ver uma repetição do que ocorreu em Woolwich [bairro de Londres onde o soldado Lee Rigby foi morto por radicais islâmicos, em maio deste ano].
O Parlamento deixou claro que antes de agir é preciso ver o resultado da investigação sobre o uso de armas químicas. Você não pode punir quem violou leis internacionais com uma ação que também viole essas leis.
Quero ser bem claro nesse ponto. Desde que comecei a defender a paz na Síria, tenho sido acusada por muita gente de apoiar Assad. É imoral acusar alguém que defende a paz de apoiar um ditador ou um criminoso de guerra.
Defendo a paz porque acho que a guerra será um desastre para o país. Os sírios têm direito, assim como os americanos, de acordar e levar os filhos para a escola. As mulheres têm o direito de trabalhar, de ir ao supermercado. Não merecem ficar presas a uma guerra durante anos.
É possível buscar uma saída política. Se a comunidade internacional se esforçar, a situação pode ser resolvida sem mais mortes e mais sofrimento no país.
O que pensa de Assad?
Quando chegou ao poder [em 2000, no lugar do pai Hafez al-Assad], ele se apresentou como um líder liberal e secular, que levaria a Síria para uma nova era. Isso mudou ao longo do tempo.
Assad não entendeu e não soube lidar com a Primavera Árabe. Pensou que a população síria de 2011 era a mesma dos anos 80, quando seu pai chefiou a repressão em Hama [em massacre que deixou cerca de 40 mil mortos, em 1982].
Ao se sentir ameaçado, ele criou um mecanismo para sobreviver com apoio de Rússia e Irã, que estão usando a Síria como instrumento para combater o Ocidente. O país ficou espremido nesse conflito.
Parte da sociedade síria também ajudou a manter essa ditadura. Ditadores não vêm de Marte. Eles se alimentam do medo das pessoas, da incapacidade de dizer não. Durante muitos anos, as pessoas apoiaram Assad porque achavam que o regime protegia seus interesses.
Uma série na TV síria que mostrava como a religião é usada no Oriente Médio, especialmente por clérigos, para manter a dominação patriarcal e oprimir as mulheres em nome do islã. E como a burca transforma as mulheres em criaturas invisíveis, marginalizadas.
Acredito que o uso de uma vestimenta deve ser opção da mulher, e não uma imposição religiosa. Um clérigo sírio editou uma "fatwa" contra mim, afirmando que eu estava promovendo ideias ocidentais. Eu deveria ser punida com a perda de um braço. Hoje, na guerra civil síria, há jihadistas que vão a campos de refugiados, pagam para uma mulher se casar com eles durante quatro dias e depois vão para o combate, acreditando que chegarão ao paraíso. Isso é feito em nome da religião.
Acho que a única saída é a educação. As escolas precisam ensinar direitos humanos, parar de falar só em religião e falar em tolerância.
O Ocidente ainda nos vê como bárbaros e acha que precisa de bombas para lidar com o Oriente Médio. E nós colaboramos com isso quando matamos em nome da religião e deixamos que ela controle nossas vidas.