“Afinal, qual o objetivo disso tudo?” É esta pergunta, feita já no fim de Boyhood, o filme de Richard Linklater que estreia neste fim de semana, e levanta as questões principais do projeto mais ambicioso realizado pelo diretor da trilogia de Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013).
A pergunta se refere ao próprio filme, que acompanha a trajetória de um garoto rumo à idade adulta, sem nenhuma grande história para sacudir o roteiro e tentar seduzir de modo fácil o espectador. (É por isso que começar o texto com uma informação do final não põe o longa em risco: não há qualquer mistério a ser revelado ou descoberto, o filme é ele todo um apanhado de sutilezas.) E se refere também à vida, matéria-prima do longa, por isso mesmo livre de qualquer arroubo que comprometa o que ela tem de mais comum, de corriqueiro.
Em Boyhood, que no Brasil ganhou o subtítulo Da Infância à Juventude, o que Linklater faz é mostrar o correr do tempo – este sim dotado de um sentido claro e inexorável. Ele narra, com tudo o que há de ordinário nisso (não de extra), e sem chavões como a primeira transa, o primeiro cigarro ou o primeiro beijo, o crescimento de um menino dos 6 aos 18 anos de idade. Todo o elenco – o garoto (Ellar Coltrane), o pai (Ethan Wawke), a mãe (Patricia Arquette) e a irmã (vivida pela filha do cineasta, Lorelei) – é o mesmo, acompanhado ao longo desses anos, com um orçamento enxuto de cerca de 2,4 milhões de dólares no total.
No lugar de surpresas e reviravoltas, o que se vê é o menino Mason lidando com o divórcio dos pais e a ausência paterna, o garoto brigando com a irmã, conhecendo e dizendo adeus aos namorados da mãe, mudando de casa uma e outra vez, mudando de corpo, de voz, de amigos. Ele recebe visitas do pai, viaja com ele, ganha um meio-irmão, é mal recebido na escola nova, começa a namorar, faz planos para a faculdade, para morar sozinho, para a vida. É a vida que se vê em Boyhood, com as pequenas dores e os pequenos prazeres inerentes a ela.
Ao lado de Mason, outro personagem importante é a mãe. Não só porque casa e descasa e muda de endereço, com a família a tiracolo, diversas vezes. Mas porque é ela quem injeta algum conflito, nas brigas com os maridos ou namorados, e quem mais sente dor, ao lado de Mason, como na cena em que tem de se despedir do filho e ficar, pela primeira vez, completamente sozinha em casa.
Ousadia e inovação nem sempre são sinônimos, mas aqui são frente e verso de uma mesma folha. A inovação e a ousadia do diretor não estão em mostrar a passagem do tempo, mas na maneira como escolheu fazê-lo, inédita no cinema. Elogiado no Festival de Sundance, em janeiro, e na Berlinale, em fevereiro, o roteiro é cotado para o Oscar da categoria – assim como Linklater desponta como favorito para a estatueta de direção, Ellar Coltrane pode levar o troféu de melhor ator e o próprio filme pode ficar com o prêmio principal da noite, no próximo 22 de fevereiro. Ainda que não ganhe nada, já é em si mesmo um troféu – é um trunfo ter finalizado um filme como esse, sem desistências ou sobressaltos no elenco.
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Em Boyhood, que no Brasil ganhou o subtítulo Da Infância à Juventude, o que Linklater faz é mostrar o correr do tempo – este sim dotado de um sentido claro e inexorável. Ele narra, com tudo o que há de ordinário nisso (não de extra), e sem chavões como a primeira transa, o primeiro cigarro ou o primeiro beijo, o crescimento de um menino dos 6 aos 18 anos de idade. Todo o elenco – o garoto (Ellar Coltrane), o pai (Ethan Wawke), a mãe (Patricia Arquette) e a irmã (vivida pela filha do cineasta, Lorelei) – é o mesmo, acompanhado ao longo desses anos, com um orçamento enxuto de cerca de 2,4 milhões de dólares no total.
No lugar de surpresas e reviravoltas, o que se vê é o menino Mason lidando com o divórcio dos pais e a ausência paterna, o garoto brigando com a irmã, conhecendo e dizendo adeus aos namorados da mãe, mudando de casa uma e outra vez, mudando de corpo, de voz, de amigos. Ele recebe visitas do pai, viaja com ele, ganha um meio-irmão, é mal recebido na escola nova, começa a namorar, faz planos para a faculdade, para morar sozinho, para a vida. É a vida que se vê em Boyhood, com as pequenas dores e os pequenos prazeres inerentes a ela.
Ao lado de Mason, outro personagem importante é a mãe. Não só porque casa e descasa e muda de endereço, com a família a tiracolo, diversas vezes. Mas porque é ela quem injeta algum conflito, nas brigas com os maridos ou namorados, e quem mais sente dor, ao lado de Mason, como na cena em que tem de se despedir do filho e ficar, pela primeira vez, completamente sozinha em casa.
Ousadia e inovação nem sempre são sinônimos, mas aqui são frente e verso de uma mesma folha. A inovação e a ousadia do diretor não estão em mostrar a passagem do tempo, mas na maneira como escolheu fazê-lo, inédita no cinema. Elogiado no Festival de Sundance, em janeiro, e na Berlinale, em fevereiro, o roteiro é cotado para o Oscar da categoria – assim como Linklater desponta como favorito para a estatueta de direção, Ellar Coltrane pode levar o troféu de melhor ator e o próprio filme pode ficar com o prêmio principal da noite, no próximo 22 de fevereiro. Ainda que não ganhe nada, já é em si mesmo um troféu – é um trunfo ter finalizado um filme como esse, sem desistências ou sobressaltos no elenco.